Total de visualizações de página

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Sísifos Modernos


“Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!”
(Mário Quintana)



A busca pela felicidade é uma constante na vida do homem. Companheiros, roupas, casas, carros, dinheiro. Parece que a gente busca sem realmente querer encontrar. É como se estivéssemos viciados no caminho para alcançar a dita felicidade. Viciados no desafio. A felicidade só está em determinado carro até o ponto em que você o adquire. A felicidade só está em determinado emprego até o ponto em que você é contratado. A felicidade só está no homem dos seus sonhos até o ponto em que ele finalmente está com você.
Na minha religião, a gente estuda que a “chave” para a felicidade estaria em três coisas: Consciência tranquila, fé no futuro e posse do necessário. O problema está nesse terceiro aí... Quantas vezes a gente não torna necessário o supérfluo? A necessidade de ter as roupas das melhores marcas, o carro do ano, o emprego de melhor status. Não acho que é errado querer subir na vida. Aliás, é óbvio que eu não acho errado. O problema mesmo é quando tudo no seu mundo gira em torno disso e só em torno disso. Aí é aquilo: Você se mata de trabalhar, gasta toda a sua saúde e tempo para ganhar muito dinheiro, que será usado no futuro pra reestabelecer toda a saúde que você perdeu nessa busca incessante e nem sempre lógica. Mas e o tempo? É. O tempo já foi... E esse o dinheiro não compra mais.
E não é só dinheiro que a gente busca. Hoje, com a sociedade da corpolatria, que clama por corpos esteticamente perfeitos (não importando a que custo), levamos o nosso corpo ao extremo. Treinos pesadíssimos em academias, comprometendo – às vezes de maneira irreversível – nossas articulações, ingestão de substâncias danosas ao nosso organismo para ter o braço ou a coxa com o diâmetro estabelecido sabe Deus por quem, dietas absurdas com a “ajuda” de medicamentos anorexígenos, muitos com venda proibida. E nunca tá bom. Sempre dá pra crescer mais ou emagrecer mais, independente de quão bem os outros digam que você está.
Mais uma de nossas famosas buscas: o “par perfeito”. Se eu ganhasse um real cada vez que alguém me pergunta por que eu estou solteira, eu já teria comprado uma ilha. Sério. Porque parece que soa absurdo pras pessoas que uma garota de (quase) 20 anos não tenha alguém. Aliás, é absurdo que qualquer pessoa esteja só. Esses dias eu conheci um cara que tinha terminado um relacionamento MUITOO longo há pouquíssimo tempo (pouquíssimo mesmo, não fazia nem um mês), e ele já tava falando sobre como ele não tinha vontade de ficar buscando por alguém, que queria conhecer outra pessoa logo, porque já tava na “idade de casar” (vocês não fazem ideia de como essa “padronização” de fases da vida me irrita).
Com essa historia, somado a muito do que eu já vi, ouvi e vivi, cheguei a uma conclusão: A gente fica buscando tanto se “encaixar” logo com alguém,  porque a gente ainda tem a ideia de buscar alguém que nos complete, a tal cara metade. E a gente faz isso sem se dar conta de que se você busca alguém que te COMPLETA é porque sozinho você é INCOMPLETO! E isso tá errado! Ninguém é realmente feliz com outra pessoa se não tiver aprendido a ser feliz sozinho primeiro.
Uma vez vi uma psicóloga na TV dizendo a seguinte frase: “Você precisa encontrar alguém que respire com você, e não tornar alguém o ar que você respira!”. E é obvio! A nossa existência nunca foi e nunca será dependente de outro ser humano. Até mesmo na natureza as relações de simbiose só são estabelecidas em último caso, porque não é nada vantajoso que a sua vida DEPENDA de outro ser.
Enfim... Tudo isso pra dizer o seguinte: Conclui que nós, seres humanos, fugimos de nós mesmos. Temos medo de encarar as nossas limitações, de ver os nossos defeitos e medo de quão árdua a luta por nos aperfeiçoar pode ser. Por isso, nos enganamos, fingimos que estamos colocando a nossa felicidade em coisas externas, pra que pelo menos essa luta nos motive a existência. Uma luta vã, que nos torna concomitantemente vítimas e algozes.  Uma luta vã, que nos torna Sísifos modernos, amaldiçoados por nós mesmos.

Porque, no fundo, todo mundo conhece o velho clichê que diz que a felicidade a gente encontra dentro de nós. Mais do que conhecer, todos sabemos que é verdade.
Então, se for pra buscar crescer no emprego, que seja fazendo algo que te traga alguma realização, que te faça sentir uma pessoa melhor a cada dia, que amenize o sofrimento de quem precisa de ajuda. A ajuda que a gente presta a quem necessita sempre abre os nossos olhos às bênçãos que temos e esquecemos de agradecer, ou de valorizar.
Se for pra fazer dieta, ir pra academia, fazer luta ou dança, que seja em benefício da sua saúde – física e mental. Que te faça sentir bem com você mesmo.
Se for pra namorar, que seja alguém que respire com você, num ritmo parecido. Que seja alguém que consiga te fazer tão bem quanto você já fazia a você mesmo sozinho.
E enquanto esse “alguém” aí não chegar, você tem que SE namorar. Se curtir, se cuidar... E fazer isso sem esperar tanto por essa chegada, como se o clímax da nossa vida fosse finalmente declarar uma união estável.

Cinema, presentes, carinho... Dá pra fazer isso tudo com você mesmo. Valorize-se. Olhe seus defeitos sem tanto drama, sem tanto peso, pra que a busca por se melhorar seja leve, tranquila, e não um martírio.
Antes que surja algum comentário me chamando de hipócrita, entenda: isso é uma reflexão sobre a sociedade e eu sou parte dela. É claro que eu me encaixo em determinados aspectos. Eu, assim como todos, ainda tenho um looongo caminho a percorrer nessa história do autoconhecimento, só to procurando deixar esse caminho mais leve ;)
Aliás, aos chatos de plantão que me cobram os dedos entrelaçados as os de outrem, saibam: tô me namorando! To curtindo a família que, com todas as suas imperfeições, é perfeita pra mim. To curtindo os amigos, os quais muitos já se tornaram parte dessa família. To me amando e querendo cuidar de mim, finalmente. To vendo o quanto é bom viver com tudo que eu já tenho. To tentando encarar as lutas do porvir de forma natural, necessária. To fortalecendo minha fé em Deus. To ampliando minha fé em mim. E... Quer saber? To feliz.